sábado, 1 de janeiro de 2011

Entrevista Professora Teresa Amaral - APNEP:

«A desnutrição é um grave problema
de Saúde Pública»

NutriNews: O Projecto NutriAction teve como objectivo aferir
do estado nutricional dos idosos. Como podemos lutar contra a
malnutrição demonstrada no estudo?

Professora Teresa Amaral: A desnutrição é largamente prevenível e
tratável. Dado o baixo custo da maioria das intervenções nutricionais,
resultados de estudos cuidadosamente conduzidos apoiam o mérito
da adopção de um rastreio e de um tratamento nutricional apropria-
do, também de uma perspectiva económica.

Esta necessidade já há
muito reconhecida de rastreio do estado nutricional no momento da
admissão hospitalar, revela-se naturalmente como sendo da maior
importância sobre uma perspectiva preventiva, a nível comunitário.

NN: O rastreio nutricional dos mais idosos é uma necessidade urgente?

TA: É, pois a desnutrição parece ser a doença mais frequente no
ambiente hospitalar e na comunidade, representando um grave
problema de Saúde Pública. O conhecimento da dimensão deste
problema, não tem sido suficiente para que sejam implementadas
as inúmeras recomendações de sociedades científicas interna-
cionais e as resoluções do Comité de Ministros do Conselho da
Europa, que visam o rastreio da desnutrição e o início atempado
do suporte nutricional. O rastreio em massa de alterações do es-
tado nutricional, surge como uma necessidade, para que todos os
indivíduos em risco sejam precocemente tratados. Somos frequen-
temente deparados com situações limites, que teriam beneficiado

de uma intervenção precoce, re-
flectindo a escassa importância e
reconhecimento que são dados às
estratégias preventivas.

NN: Que papel tem a Associação
Portuguesa de Nutrição Entérica e Parentérica (APNEP) na luta para
a implementação do rastreio nacional e obrigatório?

TA: A APNEP tem trabalhado intensamente na sensibilização so-
bre a importância do rastreio e da prescrição/monitorização da
alimentação e do estado nutricional dos doentes, na admissão e
durante todo o internamento em unidades prestadoras de cuida-
dos de saúde e também na implementação das recomendações
internacionais.

NN: Que papel têm os suplementos nutricionais na luta contra a
malnutrição dos mais velhos? E que papel tem a Nutricia Advanced
Medical Nutrition?

TA: Nas situações em que existe ou se prevê um desequilíbrio
alimentar, os suplementos nutricionais serão da maior utilidade na
prevenção e no tratamento da desnutrição. A Nutricia tem, ao longo
dos anos, apostado numa intervenção junto de todos os profissio-
nais que lidam com o problema no sentido de juntos alavancarem
estratégias e acções que contrariem a malnutrição prevalente e
potenciem a dicotomia de trabalho nutrição e terapêutica.

Nutrinews número 10 |

Terapêutica Nutricional, uma prática essencial
no combate à Malnutrição

«Os idosos, tendencialmente, fazem uma alimentação desadequada.» As palavras são da responsabilidade
do enfermeiro Joaquim Lourenço, especialista em Saúde do Idoso e Geriatria.

Relativamente à malnutrição no idoso, o enfermeiro,
Joaquim Lourenço explica que «o problema está,
por exemplo, na dentição inadequada e nas próteses
desconfortáveis. Mas, também é importante referir que o
estatuto social e económico contribui, de forma efectiva,
para o padrão alimentar da maioria das pessoas».

Existe conhecimento de que «os hábitos alimentares,
quer sejam bons, maus ou indiferentes, são adquiridos e
fixados por repetição. Este facto, associado às alterações
digestivas provocadas pela diminuição da sensibilidade
ao paladar e ao cheiro na pessoa idosa» podem trazer
problemas ao nível da saúde.

É fundamental alertar para esta problemática porque
a maioria dos idosos tem tendência para desenvolver
problemas de desidratação. «A obstipação e alguns
estados confusionais podem resultar de estados de
desidratação».

Para além destes problemas, «os idosos também podem
apresentar limitações no metabolismo, intolerância
à glicose, stress resultante da mudança de hábitos
alimentares e falta de apetite devido ao isolamento/
solidão».

A resistência à mudança é também uma característica
dos idosos porque «está associada ao controlo sobre a
respectiva vida».

Muitas vezes, «quando abandonam o ritual das refeições,
mais ou menos rígidas, acabam por perder o interesse
pelas refeições e ingerem menores quantidades de alimen-
tos, enfatiza. E acrescenta: «Com a deficiente ingestão de
cálcio, de ferro e de vitaminas, associada à diminuição da
mobilidade, aumenta o risco de fracturas e de desenvolver
osteoporose. A redução da ingestão calórica pode conduzir
à malnutrição o que, consequentemente, diminui o senti-
mento de bem-estar do idoso.»

Relativamente aos conselhos que habitualmente são
transmitidos pelos enfermeiros aos idosos, explica que,
«antes de mais, a dieta deve ser equilibrada, tendo sempre
por base os alimentos das várias categorias básicas.
Neste âmbito, deve ser dada a máxima importância ao
fornecimento de vitamina D, cálcio e fósforo».

Cabe ao enfermeiro «ser o interlocutor da equipa mul-
tidisciplinar para que o idoso possa satisfazer todas as
necessidades nutricionais», revela.

Que tipo de dieta deve ser aplicada para estes idosos com
malnutrição? No que diz respeito a esta questão, o enf.º
Joaquim Lourenço responde que, «fundamentalmente,
uma alimentação saudável para os idosos não é diferente
da alimentação saudável para os adultos, por isso, quando
se faz a avaliação nutricional do idoso deve também ter-se
em conta que grande parte dos medicamentos que este
toma, interferem na absorção de nutrientes».

A dieta ideal para os idosos «deve ser moderada a elevada
em proteínas, moderada em glícidos relativamente pobre em
gorduras e rica em vitaminas e em minerais. A experiência
profissional diz-nos que em idosos com malnutrição, é
necessário fazer terapêutica nutricional como suplemento».

Através da terapêutica nutricional é possível administrar a
quantidade de energia e proteínas diárias pretendidas e
atingir com rapidez o bem-estar do idoso. «Esta terapêutica
praticamente não interfere com os hábitos alimentares,
previne os estados de ansiedade e facilita a introdução de
medidas correctivas nos mesmos», destaca.

Antes de terminar, menciona ainda que «não comer a horas
certas e, por vezes, não jantar, pode acabar por provocar
hipoglicémias nocturnas, que quando são associadas a
uma baixa perfusão cerebral, podem causar a morte súbita.
Tal comportamento, também é causa de retardamento na
reposição óssea, cicatrização de feridas, maior predisposição
a anemia e menor resistência às infecções».

69% dos idosos perderam peso
nos últimos 3 a 6 meses

O estudo que avaliou o estado nutricional das pessoas com mais
de 65 anos concluiu que cerca de 69% dos idosos perderam peso.
Mais, os idosos institucionalizados (em hospitais e lares) perderam
9% do seu peso (isto é, cerca de 6 kg se considerarmos o indivíduo
com 65 kg) no período de três a seis meses. Contudo, independen-
temente do local de rastreio – hospital, lar ou farmácia – são os
indivíduos com “baixo peso”, os que, em maior percentagem, tive-
ram uma perda de peso superior a 5 ou 10%.

50% dos inquiridos, ingere no máximo
metade do prato da refeição principal

Através da aplicação deste estudo, enquadrado no Projecto
NutriAction, concluiu-se que um terço dos indivíduos com idade
igual ou superior a 65 anos, tem um IMC abaixo do normal.
Metade da refeição principal é o máximo ingerido por 50% da
população alvo do estudo. Contudo, apenas 18% dos indivíduos
referiram já ter realizado terapêutica nutricional, sendo o hospital
o local onde se opta mais por esta medida.

Entrevista

Malnutrição nos idosos

Contributo do farmacêutico é determinante

Numa altura em que a população portuguesa regista claros sinais de envelhecimento, o estado nutricional
das pessoas com mais de 65 anos deve ser uma preocupação.

Integrada no painel de palestrantes da conferência,
onde dia 1 de Outubro – Dia Mundial do Idoso – se
debateu a prevalência da malnutrição nos idosos, a
Dr.ª Maria da Luz Sequeira esclareceu qual é o papel
do farmacêutico neste panorama.

«As farmácias e os farmacêuticos têm tido, desde
sempre, um papel importante junto das pessoas idosas».
A dirigente da Associação Nacional de Farmácias (ANF)
afirmou também que a utilidade deste profissional
é visível «na informação e aconselhamento sobre o
uso correcto, efectivo e seguro dos medicamentos,
na identificação de indivíduos suspeitos de doenças
crónicas e, ainda, na promoção do envelhecimento
activo ao longo da vida».

No âmbito da promoção do envelhecimento activo, a
farmacêutica admitiu que «a intervenção farmacêutica
passa por recomendar estilos de vida saudáveis que
incluam uma alimentação equilibrada, actividade física
regular, controlo de peso, não fumar, uma higiene oral
adequada e, ainda, a adopção de comportamentos
que conduzam à autonomia e independência».

A propósito do uso de fármacos nesta população, a
especialista reconheceu que «os idosos apresentam
condições particulares que condicionam não só a
eficácia e segurança dos medicamentos como, também,
o seu estado nutricional», pelo que, acrescentou, «a
abordagem do farmacêutico junto do doente idoso tem
de ter em consideração todas estas questões».

Na foto: Dr.ª Maria da Luz Sequeira, dirigente da Associação Nacional de Farmácias (ANF)

A importância das campanhas de informação

Num trabalho que necessita de continuidade, Maria da
Luz Sequeira abordou o desenvolvimento de algumas
campanhas que visaram resolver os problemas de
malnutrição na população idosa, relembrando que em
2007 as Farmácias desenvolveram uma campanha
dirigida a esta população, denominada “Viver mais, viver
melhor conhecendo os seus medicamentos!”, com o
objectivo de contribuir para o uso correcto, efectivo e
seguro dos medicamentos.

«Esta iniciativa decorreu em mais de 1450 Farmácias e
dirigiu-se aos doentes com 65 ou mais anos a tomar 4 ou
mais medicamentos, com pedido para trazer à farmácia

o saco com todos os medicamentos que tomavam,
em dia e hora a marcar com o farmacêutico. No dia da
visita do doente à farmácia, o farmacêutico analisou
todos os medicamentos que o doente trouxe com o
objectivo de identificar situações como problemas
de adesão, problemas com a toma, duplicação não
intencional da terapêutica, reacções adversas e
medicamentos fora prazo.»

A farmacêutica terminou dizendo que «as farmácias
estão sempre disponíveis para colaborar em iniciativas
que visem melhorar a qualidade de vida da população,
em particular dos idosos».

Que terapêutica nutricional
receberam os indivíduos?

Produtos consumidos

Consumo
de terapêutica
nutricional

Indivíduos com “baixo peso”
e que perderam peso nos
últimos 3 a 6 meses, são os
que, em maior percentagem,
já realizaram terapêutica nu-
tricional, com o objectivo de
travar a perda de peso.

Cubitan Forticreme Vitaminas* Centrum

6,6%

17,7%

Protifar

5,6%

Nutridrink

100%

80%

60%

40%

20%

Perda superior a 5%

73,9%

Perda superior a 10%

54,9%

* erradamente os suplementos nutricionais continuam a ser confundidos com vitaminas e minerais

Ar, Água, Nutrição! São necessidades básicas

Numa acção inédita, a Nutricia Advanced Medical Nutrition, conjuntamente com
a European Nutrition for Health Alliance (ENHA) e a Associação Portuguesa de
Nutrição Entérica e Parentérica (APNEP), uniram-se para a realização de um estudo
que procurou avaliar o estado nutricional da população idosa.

Foi divulgado no passado dia 1 de Outubro, Dia Mundial do Idoso, o estudo nacional que aferiu o
estado nutricional da população com mais de 65 anos.

No evento esteve presente o Prof. Doutor Frank de Man, secretário-geral da ENHA, que descreveu
a malnutrição como «uma deficiência, excesso ou escassez na ingestão de alimentos, ou seja,
proteínas e outros nutrientes, que causam efeitos adversos nos tecidos, composição corporal,
resultados clínicos e qualidade de vida».

Segundo a ENHA entidade científica internacional que trabalha ao nível da nutrição, a população
com mais de 65 anos está malnutrida. Para além disso, acrescentou o Prof. Doutor Frank de Man,
«os indivíduos com baixo peso, são aqueles que têm uma perda superior a 5 ou 10%». O especialista
esclareceu que, na sua opinião, «só através da terapêutica nutricional conseguiremos, de forma efi-
caz, travar a malnutrição». A ENHA entregou junto da União Europeia um documento designado por
White Paper “Together for Health”, com o objectivo de alertar os países da UE para a necessidade
de criar uma abordagem integrada e conjunta para combater a malnutrição. Como destaca a ENHA,
a malnutrição, tal como a obesidade, é o resultado de uma lacuna nutricional com consequências
significativas para a saúde, qualidade de vida e despesas de farmacoeconomia. O documento, define
uma estratégia para o período 2008-2013 e aler-
ta a UE para a urgência de uma abordagem mais
aprofundada da malnutrição que, paralelamente
com a obesidade, terá de ser uma prioridade das
políticas de saúde, programas de educação, in-
vestigação e ao nível da implementação de pro-
jectos de informação.

Ricardo Gaudêncio/JAS Farma ®

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