Necessidades nutricionais no idoso
O envelhecimento é um processo caracterizado por mudanças biológicas
normais que ocorrem com o passar da vida. A qualidade de vida na terceira
idade relaciona-se a diversos fatores do cotidiano, como a saúde física e
mental, satisfação com o trabalho, relações familiares, vida social, estado
nutricional adequado, atividades físicas, entre outros.
Um estilo de vida que combina uma alimentação equilibrada, atividade
física regular e controle do estresse, contribui para aumentar a expectativa de
vida do idoso e, principalmente, uma vida mais saudável.
Nos idosos as funções no organismo diminuem como um todo,
diferenciando-se na intensidade segundo o órgão ou sistema em questão.
Uma das maiores modificações no organismo é a mudança na
composição corporal, com o aumento do tecido adiposo e diminuição da massa
magra. A partir dos 60 anos, este quadro atinge todos os órgãos e com maior
intensidade na massa muscular, provocando alteração na força e mobilidade,
favorecendo a possibilidade de quedas. Esta alteração da composição corporal
reflete diretamente na diminuição do metabolismo basal.
O olfato, paladar e a visão diminuem, podendo reduzir o consumo
alimentar, assim como a capacidade de mastigação. O idoso passa a ter
escolhas alimentares alteradas que podem diminuir o valor nutritivo da
alimentação e com isso, aumentar o risco de desnutrição.
Um bom estado nutricional, com o fornecimento adequado de energia,
proteínas, vitaminas e minerais é de extrema importância para que o idoso
resista às doenças crônicas e debilitantes e possa manter a saúde e
independência.
Para a avaliação nutricional do idoso é fundamental ressaltar uma
história alimentar. Contudo, é necessário questionar o idoso, assim como os
familiares, sobre alterações de peso, restrições alimentares voluntárias ou
impostas,
crônicas e uso de medicamentos. Além disso, um registro da alimentação
habitual do paciente por três dias é interessante para avaliar o padrão rotineiro
de ingestão.
Nos exames físico e laboratorial devem ser identificadas as alterações
procurando não confundir os sinais de desnutrição com o processo de
envelhecimento.
alcoolismo,
depressão,
alterações
gastrointestinais,
Necessidades energéticas
Nos idosos, assim como em toda a população, a quantidade energética
ingerida na alimentação é fundamental para manter um estado nutricional
adequado. Uma alimentação diversificada, com alimentos de diferentes fontes,
oferece os nutrientes necessários para uma nutrição equilibrada, desde de que
ingeridos na quantidade recomendada para suprir os gastos energéticos.
O fracionamento das refeições, assim como a diminuição do seu volume
contribuem para o processo de digestão, absorção e aproveitamento dos
alimentos. Recomenda-se o consumo de quatro a seis refeições diárias. Além
disso, é importante a refeição apresentar aspectos agradáveis, como a cor,
sabor, aroma e textura.
A redução na massa magra corpórea e a atividade física estão
associadas com a necessidade total de energia. O metabolismo basal reduz
cerca de 10% até os 60 anos e aumenta com passar da idade, influenciando
diretamente com a diminuição do gasto energético.
O gasto energético diário é estimado mediante a soma do metabolismo
basal e as atividades físicas. Para determinar a taxa metabólica basal
recomenda-se a utilização da equação da Organização Mundial da Saúde,
OMS, 1996 que considera o peso corporal. A energia gasta com a atividade
física pode ser mensurada e avaliada em tabelas com o gasto energético por
tipo de atividade.
Carboidratos
O carboidrato é um nutriente essencial na nutrição humana. Algumas de
suas funções são: fornecer energia para o organismo, preservar a proteína,
servir como único substrato energético para o sistema nervoso central e ativar
o metabolismo.
A dieta do idoso deve obter entre 50% a 60% do valor calórico total de
carboidratos. É necessário ressaltar a prioridade de carboidratos complexos,
como o arroz, macarrão, pães, batata e cereais, para minimizar os picos de
hiperglicemia. Os carboidratos simples, como a glicose e sacarose deverão ser
no máximo 10% do total de carboidratos.
Proteínas
As proteínas são formadas por diferentes combinações dos 20
aminoácidos e exercem funções estruturais, reguladoras, de defesa e de
transporte nos fluidos biológicos. A melhor fonte protéica são as de origem
animal, entretanto, a mistura de cereais e leguminosas fornece a quantidade
necessária de aminoácidos para a síntese protéica.
Os idosos apresentam diminuição na síntese e degradação protéica,
além de uma menor massa magra, assim, o fornecimento protéico é
fundamental. A recomendação estabelecida pela Recomendações das
Necessidades Diárias (RDA) é de 0,8g/kg/dia. É importante ressaltar o cuidado
para não haver uma ingestão acima do recomendado, podendo sobrecarregar
o sistema renal, além de interferir na absorção de cálcio, prejudicando a massa
óssea.
Lipídeos
Os lipídeos desempenham funções energéticas, estruturais e hormonais
no organismo, além de auxiliar na absorção e transporte de vitaminas
lipossolúveis.
A ingestão de lipídeos recomendada é de 20% a 30% do valor calórico
total. No entanto, as gorduras saturadas não devem ser superior a 10%, pela
sua associação com doenças coronarianas. São encontradas em carnes, ovos,
leite e derivados.
O restante deverá ser de mono e poliinsaturados, encontrados em
gorduras vegetais. A ingestão de ácidos graxos essenciais, que incluem o
ômega 6 (ácido linoléico) deve ser de 11g/dia, sendo encontrado em nozes,
castanhas, sementes e óleo de soja, girassol e milho; e o ômega 3 (ácido
linolênico) com ingestão de 1,1g/dia, encontrado em óleos de canola, linhaça,
salmão, arenque, sardinha e algas. O consumo de colesterol não deve ser
superior a 300mg/dia.
Vitaminas e Minerais
O uso de suplementos vitamínicos e de minerais pelos idosos pode ser
uma alternativa a ser considerada quando há consumo de dietas inadequadas
ou alguma enfermidade específica. Porém, seu uso não pode ser extrapolado,
visto que uma dieta equilibrada pode suprir as necessidades do indivíduo.
O cálcio é um dos principais micronutrientes relacionados com o
envelhecimento, além de ser o mais abundante no corpo humano. O
metabolismo do cálcio está diretamente relacionado com a perda da massa
óssea ou osteopenia, podendo atingir a osteoporose. Além disso, a absorção
de cálcio está diminuída no idoso, sendo mais um fator de contribuição da
doença. A suplementação pode ser necessária para grupos de risco, como
mulheres na pós-menopausa com histórico familiar da doença, raça branca,
baixo peso, sedentárias e com exposição solar inadequada.
Segundo as DRIs, a recomendação de cálcio para a população acima
dos 51 anos é de 1200mg/dia.
A vitamina D é um outro fator relacionado ao metabolismo ósseo, sendo
necessário um controle adequado na ingestão deste nutriente. O estilo de vida
do idoso, prática de atividade física, reposição hormonal e a genética devem
ser levados em consideração. Além disso, o consumo de cafeína, alimento
comum entre idosos, hábito de fumar e excesso de álcool podem comprometer
negativamente a massa óssea.
Contudo, o acompanhamento do paciente idoso é extremamente
necessário para que o mesmo tenha uma dieta equilibrada e mantenha a saúde.
Hidratação
A água deve merecer atenção especial, principalmente nesta faixa
etária, na qual a desidratação é o distúrbio hidroeletrolítico mais comum.
O sistema renal diminui sua capacidade com a idade, assim como os
idosos sentem menos sede que os mais jovens, gerando uma privação de
água. Esta pode ocorrer por um distúrbio cognitivo, pela diminuição da sede ou
por debilidade física. Contudo, a água deve ser controlada, assim como a dieta
e os medicamentos, principalmente, para idosos que requerem um maior
cuidado.
Como visto a população idosa apresenta particularidades que merecem
maior cuidado e atenção. A nutrição pode contribuir para a manutenção e
melhoria da saúde destes indivíduos, buscando a união de uma dieta
equilibrada e saudável com o prazer, alegria e conforto que o alimento propicia,
respeitando sempre as preferências e hábitos dos idosos.
Referências Bibliográficas
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SOUZA, F.T.F.S., MOREIRA, E.A.M. Qualidade de vida na terceira idade:
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1998.
Luiza Rossi Camargo - acadêmica do curso de Nutrição do Centro Universitário São
Camilo, estagiária em Marketing Nutricional da Nutrociência Assessoria em Nutrologia
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