sábado, 1 de janeiro de 2011

Problemas com a memória em idosos
Dr. Norton Sayeg é médico especialista em Geriatria e Gerontologia desde 1984 pela Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia da Associação Médica Brasileira – AMB.

Uma das queixas mais comuns em idosos é a perda da memória. É tão freqüente que, infelizmente, ainda existe a crença de que se trata de um evento normal e inexorável do processo de envelhecimento. Isso não é verdade. Ele é comum, não normal. Melhor: trata-se de um problema, por vezes, passível de tratamento e cura.

Acontece que, até pouco tempo, a medicina não estava instrumentalizada para o manejo adequado dessa questão; diante de uma queixa de comprometimento intelectual, nada era feito. Pior: indicavam-se certos produtos sem nenhuma sustentação científica, que, evidentemente, não apresentavam resultados, privando o paciente de uma avaliação geriátrica correta e do tratamento efetivo.

Não existem drogas que "melhorem a memória". Geralmente, a perda de memória é devida a algum fator que, se corrigido, devolve ao indivíduo a função que estava prejudicada.

O grande vilão é o uso de calmantes e remédios para dormir, os hipnóticos. Os brasileiros são grandes consumidores de tranqüilizantes e é extremamente comum que o uso indiscriminado dessas drogas (tendo em vista que, à medida que envelhecemos, temos maior dificuldade para eliminá-las) intoxique o usuário, levando-o a quadros graves de rebaixamento intelectual, agitação, delírio e confusão mental. A simples retirada do medicamento, muitas vezes, resolve o problema.

Outra causa é a depressão, que em idosos caracteriza-se por dificuldades para dormir, mudança no padrão de apetite e perda de memória. Assim, se em vez de tratar a depressão o paciente recebe um medicamento para dormir, estaremos apenas cuidando de um sintoma e a memória será ainda mais prejudicada. O tratamento de estados depressivos é eficaz e seguro, fazendo com que a memória seja restabelecida e o sono, regularizado, sem a necessidade do uso de medicamentos.

Outras causas são silenciosas; não têm sintomas exuberantes e, por isso, são difíceis de serem diagnosticadas. Entre elas estão; a diminuição do desempenho da glândula tireóide (hipotireoidismo), o uso de certos medicamentos para pressão alta, gastrite etc., problemas sensoriais como a visão e especialmente de audição, a falta de estímulo sócio-intelectual, deficiência de certos nutrientes e abuso de álcool etc.

Percebe-se claramente que essa questão está longe de ser um problema insolúvel. A informação é fundamental para que, ao primeiro sinal de comprometimento da memória, se faça uma investigação clínica completa, para identificação da causa e instituição imediata do tratamento.



O que é perda normal de memória?



Todos nós em algum momento nos esquecemos de várias coisas. Esquecemos onde colocamos os óculos, as chaves do carro, a caneta e até de eventos importantes, como data de aniversário de parentes, de casamento etc.

Esses esquecimentos fazem parte do dia-a-dia e são naturalmente aceitos quando ocorrem com adultos jovens. Esses lapsos de memória não são valorizados e já estão incorporados na maneira de ser das pessoas, não trazendo maiores preocupações.

Quando esses fatos acontecem com pessoas de mais idade eles são mal interpretados e algumas vezes invariavelmente “rotulados” como início de algum problema mais sério. A pior de todas as rotulações é feita a partir das temíveis frases como: “Vovó está ficando esclerosada” ou ainda pior: “é o começo da ‘esclerose’ e isso é normal para a idade dela”.

Especialistas em envelhecimento há muito já estudaram os problemas com a memória que ocorrem com indivíduos idosos e determinados conceitos são atualmente bem conhecidos e comprovados cientificamente.

É verdade que com o envelhecimento o nosso organismo, como um todo, apresenta uma diminuição gradativa de várias funções existindo uma maior dificuldade de se reter na memória algumas informações. A esse estado os cientistas denominaram “Prejuízo da Memória Associado à Idade – (PMAI)”, definindo assim que, apesar de haver um declínio nesse campo, essa não é uma alteração que se deva relacionar obrigatoriamente como uma doença.

O PMAI não interfere nas atividades da vida diária e tampouco representa deficiência mental. O PMAI é passível de ser contornado eficazmente por meio de tratamento da memória, com exercícios que estimulam a atenção, com a elaboração de listas de afazeres, com jogos de memória, com associações de fatos, objetos, nome, fotos etc.

Os problemas com a memória podem estar associados a inúmeras causas, sendo as mais comuns: o cansaço, a solidão, a tristeza, a depressão, o estresse, o uso abusivo de álcool, o uso indevido de medicações calmantes e hipnóticos, certas doenças, falta de concentração, problemas de ordem nutricional etc. Também tem grande importância na queda do desempenho da memória as dificuldades com a visão e audição, alterações extremamente comuns na faixa etária avançada.

Muitas vezes uma dieta personalizada e bem balanceada, suspensão de certos medicamentos, uso de óculos, aparelhos auditivos, remoção de cerume dos ouvidos e outras correções desses fatores desencadeantes, melhoram substancialmente e até resolvem os transtornos da memória.



Quando a perda de memória é doença?



Como então podemos diferenciar se os problemas de memória em pessoas idosas são um sinal de doença?

Ao contrário do PMAI, que não apresenta piora gradativa, os problemas sérios com a memória pioram progressivamente, chegando a interferir com as atividades do dia-a-dia.

Quando os esquecimentos deixam de ser habituais e facilmente compensáveis com artifícios como anotar os recados, fazer listas de compromisso etc., e passam a dificultar as atividades do cotidiano, necessitando de ajuda de terceiros, aí sim, transformam-se em uma real preocupação médica.

Mesmo em idades avançadas um comprometimento da memória a esse nível não é normal, merecendo uma avaliação clínica completa para pronta detecção da causa.

É, portanto, imperioso que, ao primeiro sinal de que a memória está diminuída, se consulte um profissional para que o limite entre o normal e a doença possa ser estabelecido com segurança.



O que pode ser feito para melhorar a memória



Saiba que sempre podemos melhorar o desempenho da nossa memória.
Não aceite passivamente o declínio observado.
Mantenha-se ativo: novos amigos, cursos, leitura, visitas etc.
Leia pelo menos as manchetes de um jornal diariamente.
Faça palavras cruzadas dando preferência às de fácil execução.
Reserve um período do dia para trabalhar a memória
Reserve um local da casa com boa iluminação e silencioso para o seu treino.
Assegure-se que só será interrompido se absolutamente necessário.
Mantenha uma dieta saudável, beba muito líquido e ande pelo menos 30 minutos por dia.
Evite tensões desnecessárias.
Quando não entender direito o que foi dito, pergunte!
Anote tudo que for importante em um caderno ou uma agenda.
Participe de jogos que envolvam o raciocínio.
Seja uma pessoa flexível, esteja aberto para ouvir. As pessoas que não são flexíveis acabam sendo excluídas do seu meio social.
Quando lhe fizerem uma pergunta e não puder lembrar-se da resposta imediatamente, não se sinta constrangido, use recursos para ganhar tempo extra para responder: sorria, ajeite os óculos, repita a pergunta, respire fundo, limpe a garganta, etc.

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