sábado, 1 de janeiro de 2011

Prevalência de doenças crônicas e estado
nutricional em um grupo de idosos
brasileiros

The prevalence of chronic disease in a group of elderly Brazilian
people and their nutritional status

Christiane Leite-Cavalcanti1, Maria da Conceição Rodrigues-Gonçalves1,
Luiza Sonia Rios-Asciutti1 e Alessandro Leite-Cavalcanti2

1 Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, Paraíba, Brasil. chris_tiane2006@hotmail.com;
raulceica@ig.com.br; luiza.asciutti@terra.com.br.
2 Universidade Estadual da Paraíba, Campina Grande, Paraíba, Brasil. dralessandro@ibest.com.br

Recebido em 4 Maio 2009/Enviado para Modificação em 7 Novembro 2009/Aprovado em 15 Novembro 2009

RESUMO

Objetivo Avaliar a prevalência de doenças crônicas e o estado nutricional de um
grupo de idosos do município de João Pessoa, PB, Brasil.
Método Foram avaliados 117 idosos com idades entre 60 e 89 anos atendidos nos
Centros de Referência e Cidadania. O instrumento de pesquisa compreendeu um
questionário e incluía variáveis sócio-demográficas, sócio-econômicas,
comportamentos relacionados à saúde e antropométricas. Os resultados foram
organizados com o Software SPSS, sendo apresentados por meio da estatística
descritiva (média e desvio-padrão, freqüências absoluta e percentual).
Resultados Em relação ao uso do tabaco e do álcool, 4,3 % e 9,4 %, respectivamente,
afirmaram fazer uso destas substâncias e 56,4 % reportaram não praticar atividade
física. Da amostra, 78,6 % utilizam medicamentos e 82,1 % afirmaram possuir alguma
doença crônica não-transmissível, sendo mais freqüentes a hipertensão arterial
(56,4 %), as dislipidemias (33,3 %) e o diabetes mellitus (20,5 %). Segundo a
classificação do IMC, 46,2 % apresentavam sobrepeso e 40,2 % obesidade grau,
enquanto em relação ao RCQ, 97,4 % foram classificados como obesos abdominais.
Conclusão A prevalência de doenças crônicas foi elevada, principalmente a hipertensão
arterial, com a maioria dos idosos sendo classificados como obesos abdominais,
com risco muito alto para desenvolvimento de doenças cardiovasculares.

Palavras-Chave: Avaliação nutricional, Saúde do idoso institucionalizado, Sobrepeso,
Obesidade (fonte: DeCS, BIREME).

ABSTRACT

Objective Evaluating the prevalence of chronic disease in a group of elderly people
living in the city of João Pessoa, PB, Brazil and their nutritional status.
Method 117 subjects aged 60 to 89 attending local Reference and Citizenship Cen-
tres were evaluated. The research instrument used was a questionnaire addressing

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socio-demographic, socioeconomic and anthropometric variables and health-related
behaviour. The data so collected was organised using SPSS statistical software and
presented via descriptive statistics (mean and standard deviation, and absolute and
percentage frequencies).
Results 4.3 % and 9.4 % of the subjects admitted using tobacco and alcohol, respec-
tively. 56.4 % did not engage in any physical activity. As many as 78.6 % used medica-
tions and 82.1 % admitted to suffering from some non-transmissible chronic disease,
the most frequent being hypertension (56.4 %), dyslipidaemia (33.3 %) and diabetes
mellitus (20.5 %). According to body mass index (BMI) classification, 46.2 % were
overweight and 40.2 % presented degree I obesity. Regarding the waist-to-hip ratio
(WHR), abdominal obesity was diagnosed in 97.4 % of the elderly in the study.
Conclusion The prevalence of chronic disease, especially hypertension, was high in
the studied population. Most institutionalised elderly were classified as suffering from
abdominal obesity, representing an extremely high risk of developing cardiovascular
disease.

Key Words: Nutritional assessment, health services for the institutionalised elderly,
overweight, obesity (source: MeSH, NLM).

RESUMEN
Prevalencia de enfermedades crónicas y estado nutricional en un grupo de personas de
edad avanzada, de Brasil

Objetivo Evaluar la prevalencia de enfermedades crónicas y el estado nutricional de grupo de
personas de edad avanzad, del muncipio João Pessoa, PB, Brasil.
Método Se evaluaron 117 personas con edades entre 60 y 89 años, atendidos en los Centros de
Referencia y Ciudadanía. Se utilizó un cuestionario que incluía variables socio-demográficas,
socio-económicas, comportamientos relacionados con las salud y antropométricas. Los resultados
fueron organizados con el software SPSS y se presentaron por medio de estadísticas descriptivas
(frecuencias absolutas y proporcionales, medias y desviaciones).
Resultados En relación con el consumo de tabaco y del alcohol, 4,3 y 9,4 % respectivamente
afirmaron utilizar estas sustancias y 56,4 % reportaron no hacer actividad física. Del total, 78,6 %
utilizan medicamentos y 82,1% afirmaron tener alguna enfermedad crónica no transmisible, más
frecuentes la hipertensión arterial (56,4 %), las dislipidemias (33,3 %) y la Diabetes mellitus (20,5
%). Con la clasificación del IMC, 46,2 % presentaron sobrepeso y 40,2 % obesidad, mientras que
en relación con RCQ, 97,4 % fueron clasificados como obesos abdominales.
Conclusiones La prevalencia de enfermedades crónicas fue elevada, principalmente la
hipertensión arterial, con la mayoría de quienes la presentaron clasificados como obesos
abdominales, con alto riesgo de desarrollo de enfermedades cardiovasculares.

Palabras Clave: Evaluación nutricional, salud del anciano institucionalizado, sobrepeso, obesidad
(fuente: DeCS, BIREME).

Alayón - Complicaciones crónicas
Leite - Doenças crônicas

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O

envelhecimento da população é um fenômeno de amplitude mundial, posto
que a World Health Organization (WHO) prevê que em 2025 existirão 1,2
bilhões de pessoas com mais de 60 anos, sendo que os muito idosos (com
80 ou mais anos) constituem o grupo etário de maior crescimento (1).

Todavia, esse processo ganha maior importância nos países em desenvolvimento,
com o crescimento acelerado da população de sessenta anos e mais em relação
à população geral. Aumentos de até 300% da população idosa são esperados
nesses países, especialmente nos que integram a América Latina (2). No Brasil,
o aumento da população idosa vem ocorrendo de forma muito rápida, sem a
correspondente modificação nas condições de vida (3).

São considerados idosos, nos países em desenvolvimento, os indivíduos com
faixa etária igual ou superior a 60 anos de idade enquanto que nos países
desenvolvidos o recorte etário é de 65 anos. Em relação ao Brasil, a Lei de n°
8.842/94, em seu artigo 2º, parágrafo único, refere que “são consideradas idosas
as pessoas maiores de 60 anos, de ambos os gêneros, sem distinção de cor, etnia
e ideologia” (4).

Vários são os meios de melhorar a qualidade de vida daqueles que estão no
processo de envelhecer, dentre os quais se inclui o desenvolvimento de programas
de saúde. Esses programas de saúde, que têm como base à comunidade e que
implicam promoção da saúde do idoso, devem ter a nutrição como uma das
áreas prioritárias (3).

A condição de nutrição é aspecto importante nesse contexto, visto que os
idosos apresentam condições peculiares que comprometem seu estado nutricional.
Alguns desses condicionantes ocorrem devido às alterações fisiológicas do próprio
envelhecimento, enquanto outros são acarretados pelas enfermidades presentes,
pelas práticas ao longo da vida (fumo, dieta, atividade física) e situação
socioeconômica (5,6).

A manutenção de um estado nutricional adequado é muito importante, pois, de
um lado, encontra-se o baixo-peso, que aumenta o risco de infecções e mortalidade,
e do outro o sobrepeso, que aumenta o risco de Doenças Crônicas Não-
Transmissíveis (DCNT), como hipertensão, diabetes mellitus e hiperlipidemias (7).

Com o fenômeno de envelhecimento populacional, aumenta, cada vez mais,
a necessidade de conhecimento dos fatores que incidem sobre a prevalência das
DCNT associadas à idade. Um exemplo disso é que taxas elevadas de sobrepeso

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e obesidade em todas as faixas etárias, incluindo os idosos, atingindo os dois
gêneros, estão sendo observadas no mundo inteiro (8).

O processo de envelhecimento populacional vem-se constituindo num dos
maiores desafios para a saúde pública contemporânea, principalmente nos países
onde esse fenômeno tem ocorrido em situações de pobreza e grande desigualdade
social (9). O delineamento de políticas específicas para pessoas idosas vem
sendo apontado como altamente necessário, sendo imprescindível o conhecimento
das necessidades e condições de vida desse grupo etário (10).

Com o aumento de pessoas acima dos 60 anos de idade, eleva-se a necessidade
de estudos que investiguem os comportamentos relacionados à saúde e o estado
nutricional para que as propostas de políticas de saúde causem impacto na qualidade
de vida desta população. Portanto, objetivando oferecer subsídios para o
planejamento local de ações de saúde, o presente estudo avaliou a prevalência
de doenças crônicas e o estado nutricional em um grupo de idosos do município
de João Pessoa, PB, Brasil.

METODOLOGIA

A pesquisa foi realizada em João Pessoa, capital do Estado da Paraíba, localizada
na região nordeste do Brasil. O município possui uma população de mais de 700 mil
habitantes e um Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de 0,78.

Local do estudo
Esse estudo epidemiológico e transversal foi realizado nos Centros de Referência
e Cidadania (CRC), pertencentes à Secretaria do Desenvolvimento Social (SEDES),
da Prefeitura do Município de João Pessoa, PB. Esses centros constituem-se em
espaços privilegiados voltados à valorização dos idosos, com o desenvolvimento de
atividades de lazer, trabalhos manuais, noções de saúde e o exercício da cidadania.
Existem dez centros, distribuídos em diferentes bairros do Município, dos quais
nove foram incluídos na pesquisa.

População estudada
De um total de 224 idosos de ambos os gêneros, com idade entre 60 a 87 anos, 117
(52,2%) concordaram em participar da pesquisa, sendo a amostra do tipo não
probabilística.
Foram excluídos do estudo os idosos que apresentavam alterações de ordem
neurológica que os impossibilitassem de compreender os objetivos do estudo e/ou
alterações físicas que impossibilitassem a verificação das medidas antropométricas.

Leite - Doenças crônicas
Alayón - Complicaciones crónicas

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Esta pesquisa foi norteada segundo a Resolução 196/96 do Conselho Nacional
de Saúde do Brasil e segue os princípios da Declaração de Helsinque, sendo
aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Centro de Ciências da Saúde da
Universidade Federal da Paraíba – CEP/CCS, sob o nº 680/06.

Instrumento de Pesquisa e Variáveis
Para a caracterização dos idosos, o instrumento de pesquisa compreendeu um
questionário individual e incluíam as seguintes variáveis: características sócio-
demográficas (gênero, idade e estado civil), comportamentos relacionados à saúde
(ingestão de bebida alcoólica, hábito de tabagismo, prática de atividade física, uso
de medicamentos, presença e número de doenças crônicas) e antropométricas
(peso, estatura, circunferência da cintura e do quadril).

Avaliação Antropométrica

A coleta de dados foi realizada no período de março a maio de 2007, nos próprios
centros onde os idosos eram cadastrados, por um único pesquisador. A avaliação
antropométrica foi feita a partir da obtenção das medidas de peso, altura e
circunferências de cintura e de quadril (11).

O peso foi verificado utilizando-se uma balança digital (Tech Line TEC-130,
capacidade para 136 kg e intervalo de 100 g), com o indivíduo descalço e, com
roupas leves. A estatura foi verificada usando-se estadiômetro (Sanny ES 2040,
tipo trena com 220 cm) com o indivíduo ereto e com os calcanhares alinhados.
Foi utilizado o Índice de Massa Corpórea (IMC) considerando-se a razão peso
atual (kg)/quadrado da estatura (m²), baseando-se nos pontos de corte previamente
descritos na literatura (12).

As circunferências da cintura (CC) e do quadril (CQ) foram verificadas com
o auxílio de uma Fita de Medidas Antropométricas, (Sanny, com 200cm, divisão
de 1 mm). A CC foi medida na cintura natural, ou seja, entre as costelas inferiores
e as cristas ilíacas; com a leitura feita no momento da expiração, e realizou-se no
milímetro mais próximo. A CQ foi verificada no nível da sínfise púbica com a fita
circundando o quadril na parte mais saliente entre a cintura e a coxa. A razão
cintura/quadril e a CC foram utilizadas como prognóstico de determinação para
risco de doença coronariana e cardiovascular (13).

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Análise Estatística

Os resultados obtidos foram organizados com o auxílio do Software SPSS (Sta-
tistical Package for the Social Sciences) versão 10.0. Para a descrição das variáveis
contínuas utilizou-se a média aritmética, com seu respectivo desvio-padrão, e
para as variáveis categóricas, a freqüência absoluta e percentual.

RESULTADOS

Em relação à caracterização dos idosos, a maioria compreendia mulheres (94,0
%), com idades entre 60 e 69 anos (55,5 %) e casadas (35,9 %), conforme pode
ser visto na Tabela 1.

Tabela 1. Distribuição dos idosos segundo as variáveis
sóciodemográficas. João Pessoa/PB, Brasil, 2007

Quando investigados sobre o uso do tabaco, apenas 4,3 % dos idosos
informaram possuir este hábito. Em relação ao uso do álcool, 9,4 % relataram
utilizá-lo. A prática regular de atividade física foi descrita por 43,6 % dos idosos
(Tabela 2).

Em relação ao estado de saúde, 78,6 % dos idosos relataram utilizar algum
tipo de medicamento e 82,1 % afirmaram possuir alguma doença crônica não-
transmissível. Dentre aqueles que relataram ser portadores, a maioria (37,6 %)
informou ter uma única patologia crônica não-transmissível.

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Tabela 2. Distribuição dos idosos segundo os hábitos de tabagismo,
ingestão de álcool e prática de atividade física
João Pessoa/PB, Brasil, 2007

Tabela 3. Distribuição dos idosos segundo o uso de medicamentos,
presença e número de doenças crônicas não-transmissíveis existentes
João Pessoa/PB, Brasil, 2007

Em relação ao tipo de doença crônica não-transmissível existente, as mais
recorrentes foram a hipertensão arterial (56,4 %), seguida de dislipidemias (33,3 %)
e Diabetes mellitus (20,5 %), conforme demonstrado na Tabela 4.

Tabela 4. Distribuição dos idosos segundo o tipo de doença crônica
não-transmissível existente. João Pessoa/PB, Brasil, 2007

(1)

Podia ser registrado mais de 1 tipo de doença crônica.

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Em relação ao peso e à estatura da amostra, observou-se que o peso médio
dos idosos foi de 69,3kg, enquanto a estatura foi de 1,49 metros. Quanto ao IMC,
a média foi de 30,98kg/m2, sendo a circunferência de cintura de 99,08cm e a
circunferência de quadril de 105,69cm. O RCQ foi de 0,93 (Tabela 5).

Tabela 5. Características antropométricas dos idosos
João Pessoa/PB, Brasil, 2007

Segundo a classificação do IMC, 46,2 % dos idosos apresentavam sobrepeso
e 40,2 % obesidade grau I. Em relação ao RCQ, 97,4 % dos mesmos foram
classificados como obesos abdominais, com risco muito alto para desenvolvimento
de doenças cardiovasculares, conforme demonstrado na Tabela 6.

Tabela 6. Distribuição dos idosos segundo a classificação do IMC e da RCQ
João Pessoa, 2007

DISCUSSÃO

A escolha dos Centros de Referência de Cidadania para a coleta dos dados
deveu-se ao fato de que os mesmos se constituem em unidades de atendimento
a população, incluindo a população idosa do município de João Pessoa e que
estão envolvidos em ações que possibilitam e estimulam a participação popular.
São espaços que realizam as atividades dos programas sociais em execução e a
mobilização comunitária para o exercício da cidadania ativa. Portanto, os resultados
aqui descritos descrevem a prevalência de doenças crônicas e o estado nutricional
de um grupo específico de idosos.

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A análise da distribuição dos idosos segundo o sexo revelou que a maior parte
era composta por idosas do sexo feminino, semelhante ao verificado por outros
pesquisadores no Brasil (3,14) e na Colômbia (15). Outra importante consideração
deve-se ao fato de que como o estudo foi realizado em Centros de Referência é
possível que esta predominância das mulheres seja devido ao fato de que há uma
maior procura das mesmas pelo serviço. O contingente feminino aumenta de
maneira mais expressiva que o masculino, pois as mulheres vivem, em média,
oito anos a mais que os homens (16).

Corroborando estudos prévios (17,18), verificou-se predomínio de uma
população idosa “jovem” no Brasil, situada na faixa de 60 a 69 anos, aspecto que
influencia o seu perfil de saúde, visto que pessoas muito idosas são geralmente
mais frágeis e demandam serviços de maior complexidade (19).

Em relação aos hábitos de vida, apenas 4,3 % dos idosos afirmaram ser
fumantes, enquanto que em relação ao consumo de álcool menos de 10% da
amostra relataram a ingestão desta substância. O tabagismo é a principal causa
de mortalidade em todo o mundo (20).

A maioria dos idosos deste estudo relatou não praticar nenhum tipo de atividade
física. É cediço que a prática de atividade física regular diminui o risco de
desenvolver doenças crônicas não-transmissíveis, além de produzir um bem-
estar físico e mental (21). Deste modo, as pessoas podem manter-se saudáveis
depois dos 70, 80 e 90 anos se tiverem uma alimentação equilibrada, mantiverem
uma prática regular de atividade física e não fumarem (22).

O uso de medicamentos foi bastante elevado, com um percentual da amostra
utilizando 3 ou mais medicamentos simultaneamente. Os idosos costumam utilizar
muito mais medicamentos do que pessoas de outra faixa etária; assim, estão
mais propensos a sofrer seus efeitos adversos, incluindo as interações
medicamento-alimento (23,24).

Quando questionados sobre a presença de alguma doença crônica não-
transmissível, 82,1 % afirmaram ter ao menos uma doença crônica, corroborando
achados prévios (25,26), sendo que 37,6 % relataram possuir uma única doença
crônica não-transmissível. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística inquéritos populacionais realizados no país demonstram que a maioria
dos idosos (80 %) apresenta pelo menos uma doença crônica, e uma significativa
parcela, 33%, três ou mais agravos (27).

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Os dados deste estudo são sugestivos da influência do excesso de peso como
fator de risco para a hipertensão, pois mais de 56 % da amostra possuíam esta
condição. Corroborando estes achados a literatura revela associação entre o
excesso ponderal e o nível de pressão arterial aumentado (28,29). Portanto, a
influência adversa que a obesidade exerce em relação à pressão arterial, ao
metabolismo da glicose e lipídeos sanguíneos pode levar ao aparecimento de
desordens crônicas nas diversas fases da vida (6,30,31,32). Desta forma os dados
encontrados nesse estudo, alertam para esse potencial problema.

Outra variável de fundamental importância para conhecer o perfil nutricional
de uma população diz respeito ao IMC. Problemas nutricionais estão associados
ao aumento da morbidade e mortalidade e com impacto negativo na qualidade de
vida entre idosos. Vários pesquisadores têm sugerido a utilização do IMC em
estudos para investigar a relação entre sobrepeso e baixo peso com o risco de
mortalidade (33).

Na população estudada, a elevada prevalência de sobrepeso e de obesidade,
com valores médios de IMC de 30,98±3,32 kg/m2, constitui-se fator de risco
para a saúde destes idosos, uma vez que valores elevados de IMC podem estar
associados a altas taxas de morbidade e mortalidade e uma pior qualidade de
vida (34), estando, portanto, em concordância com achados prévios (7,35). Deste
modo, idosos com IMC elevado estão mais propensos a apresentarem uma
freqüência maior de doenças crônicas não-transmissíveis (15).

O perfil nutricional dos idosos brasileiros a partir dos dados da Pesquisa Nacional
sobre Saúde e Nutrição - PNSN/1989 revelou uma prevalência de sobrepeso, o
que vem sendo demonstrado em diferentes estudos onde a desnutrição, o sobrepeso
e a obesidade predominam sobre os indivíduos eutróficos (6).

A razão cintura/quadril tem sido usada em estudos populacionais como preditora
dos riscos de doenças cardiovasculares (36). Os resultados de RCQ
demonstraram-se elevados na quase totalidades dos indivíduos estudados, sendo
que os valores médios encontrados foram de 0,97±0,10 cm e 0,93±0,07 cm para
homens e mulheres, respectivamente. Esses dados sugerem uma alta predisposição
desta população a desenvolver doenças crônico não-transmissíveis, visto que o
acúmulo de gordura na região abdominal apresenta estreitas relações com doenças
cardiovasculares (7).

Quanto à CC, os valores médios encontrados para ambos os sexos foram
acima do recomendado (13). A obesidade e, particularmente, a localização ab-

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dominal de gordura tem grande impacto sobre as doenças cardiovasculares por
associarem-se com grande freqüência a condições tais como dislipidemias,
hipertensão arterial, resistência à insulina e diabetes, que favorecem a ocorrência
de eventos cardiovasculares, particularmente os coronarianos. Independentemente
do sobrepeso, a gordura abdominal é importante fator de risco para essas condições
(37,38,39).

Uma questão importante abordada sobre obesidade, e que merece atenção,
diz respeito ao direcionamento da informação: excesso de peso é sempre danoso
à saúde. A detecção precoce de eventual alteração do estado nutricional de uma
população é essencial para o desenvolvimento de trabalhos preventivos ou de
intervenção terapêutica, evitando o desenvolvimento de doenças no futuro.

Considerando-se que a estruturação das políticas públicas de saúde deve
estar fundamentada no diagnóstico de problemas específicos, espera-se que os
resultados do presente estudo possam subsidiar programas de promoção,
prevenção e atenção ao idoso. Por meio de esforços conjuntos pode-se empenhar
numa luta pela diminuição do impacto da desigualdade social e pelo direito de
todos ao acesso a melhores condições de vida e saúde, de modo a se garantir um
envelhecimento saudável.

A despeito da importância dos achados uma vez que se constitui na primeira
caracterização da população acima de 60 anos, é relevante destacar algumas
limitações deste estudo. A principal e mais importante limitação é o fato de a
pesquisa ter sido feita em centros de referência, de modo que apenas aqueles
idosos que estavam cadastrados foram examinados, não possibilitando extrapolar
os resultados para toda a população idosa do município de João Pessoa. Outro
aspecto se reporta à seleção dos sujeitos pesquisados que foi uma amostragem
do tipo não probabilística. Esse tipo de amostragem oferece boas estimativas
sobre os parâmetros da população, mas não permite fazer inferências/
generalizações sobre toda a população.

A partir dos resultados obtidos, sugere-se que estudos semelhantes sejam
realizados periodicamente, em diversas cidades brasileiras e também em outros
países, objetivando conhecer o estado nutricional da população idosa, para que
se possa intervir na prevenção de enfermidades e, consequentemente, na melhoria
da qualidade de vida desses indivíduos.

Os dados apresentados conferem à população estudada atenção especial,
principalmente para o controle do ganho de peso excessivo como fator de risco

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ou como conseqüência relativa às doenças crônicas não transmissíveis que podem
acarretar um grande impacto no estado nutricional. Por se tratar de um grupo
etário em rápido crescimento, as condições de saúde e nutricionais dos idosos
são imprescindíveis para o estabelecimento de ações mais efetivas no controle e/
ou prevenção dos fatores relacionados à saúde na terceira idade que resultam do
estilo de vida, principalmente em idosos considerados jovens

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