sábado, 1 de janeiro de 2011

Nurição em Foco (NeF) : Quais as carências nutricionais são mais freqüentes no idoso?

Karine Anusca Martins (K.A.M): Os idosos pertencem a um grupo diversificado, com capacidades e níveis de funcionamento amplamente variados. Em função do processo de envelhecimento há um
declínio do funcionamento normal de seus órgãos, especialmente naqueles mais de
idade.

Geralmente, nos idosos as principais carências nutricionais são de
micronutrientes como os minerais: cálcio, ferro, zinco, ácido fólico e cobre, e vitaminas do complexo B, principalmente, a vitamina B12, ainda entre as hidrossolúveis, a vitamina C, e outras lipossolúveis, como a vitamina A, por exemplo, em função da redução da superfície de absorção conseqüente às mudanças fisiológicas esperadas com
o processo de envelhecimento normal (senescência).

É importante ressaltar também que
há uma redução da síntese protéica, comprometendo também o seu estado nutricional,
sendo assim, existem carências não somente de micronutrientes, mas também de
macronutrientes.

NeF: Quais a necessidades energéticas do idoso?

K.A.M: As necessidades energéticas do idoso geralmente diminuem com a idade em
função das alterações na composição corporal, da diminuição da taxa metabólica basal e
da redução na atividade física. O conhecimento destas necessidades dos idosos é
essencial para a promoção da saúde.
Os valores sugeridos para os macronutrientes (proteínas, glicídios, lipídios e
fibras) têm como base os níveis recomendados por gramas e/ou por percentuais em
relação ao valor energético total. O percentual de distribuição de macronutrientes são
determinados como base no intervalo de distribuição aceitável dos macronutrientes
(Acceptable macronutrient distribuition range – AMDR), preconizado pelo Institute of
Medicine (2002).
Sendo assim, as diretrizes atuais recomendam que 45-65% das calorias diárias
totais sejam consumidas na forma de glicídios (carboidratos) e que as fibras totais
devem somar em torno de 25-30g/dia, sendo 10-13g/1000Kcal.
Em relação aos lipídios (gorduras) preconiza-se um percentual de ingestão
referente ao valor energético total da dieta entre 15-30%, com menos de 10% de ácidos
graxos saturados, entre 6-10% de ácidos graxos poliinsaturados, devendo ser de 5-8%
de ácidos graxos ômega-6, entre 1-2% de ácidos graxos ômega-3 e o percentual de
monoinsaturados por diferença. Admite-se o uso de 35% do valor energético total da
dieta na forma de lipídios para idosos saudáveis e fisicamente ativos.
No que se refere às proteínas, a AMDR foi estabelecida para complementar os
100% relativos aos valores de glicídios e lipídios, situando-se entre os valores de 10 a
35% do valor energético total. É importante observar que os valores máximos de
proteínas são elevados quando comparados ao intervalo de referência preconizado
anteriormente (10 a 15%), entretanto, se considerarmos o uso adequado de valores de
carboidratos e lipídios nas dietas, conforme o preconizado, possivelmente os valores de
proteína da dieta também estarão de acordo com o recomendado. Além disso,
aconselha-se para o idoso saudável uma ingestão protéica de 0,9-1,1g/Kg/dia.
Para os micronutrientes, as recomendações modificam-se de acordo com a idade
devido às mudanças fisiológicas que são esperadas com o envelhecimento. Ainda falta
muita informação sobre as recomendações adequadas de vitaminas e minerais para os
idosos. Portanto, devemos avaliar o seu consumo alimentar e prescrever uma dieta
equilibrada sem esquecer de considerar cada micronutriente em sua peculiaridade.

NeF: Quais são as principais causas da desnutrição no idoso?

K.A.M: O envelhecimento é assinalado por uma perda progressiva de massa corpórea,
bem como pela mudança na maioria dos sistemas do organismo: sensorial,
gastrointestinal, metabólico, cardiovascular, renal, neurológico, psicossocial, musculoesquelético.
Todas essas modificações influenciam direta ou indiretamente no estado
nutricional do idoso, em especial, as modificações do trato gastrointestinal (TGI). Entre
os fatores que comprometem o estado nutricional dos idosos podemos citar:
- Redução da acuidade dos órgãos dos sentidos: alterações de visão, paladar,
olfato, audição e tato, que levam à perda do apetite, reduzindo a ingestão
energética necessária para manutenção de suas necessidades nutricionais.
- Alterações na cavidade bucal: ausência de dentes, próteses mal encaixadas,
doenças periodontais e redução da secreção salivar: diminuição do consumo de
alimentos mais duros tipo carnes, frutas e verduras cruas.
- Alterações gástricas e intestinais pela redução de movimentos peristálticos e da
secreção de ácido clorídrico (HCl), enzimas digestivas, fator intrínseco, sais
biliares: interferência na digestão, absorção e favorecimento da obstipação
intestinal
- Alterações metabólicas no pâncreas, fígado e rins, com dificuldades no processo
digestivo
- O uso prolongado de medicamentos, entre outros fatores.

NeF: Como tratar a anorexia no idoso?

K.A.M: A anorexia (definição: recusa em se alimentar) do idoso é produzida por
múltiplos fatores em resposta a uma redução na taxa metabólica e da atividade física,
que se manifesta com o envelhecimento. Os mecanismos responsáveis pelo seu
desenvolvimento ainda não estão completamente estabelecidos, entretanto, acabam
provocando um quadro de desnutrição grave, conhecido como caquexia, cujo
tratamento é difícil e o sucesso pequeno. Toda atenção e cuidado devem ser dispensados
aos idosos que estão com anorexia, para tentarmos adequar a sua ingestão energética às
suas necessidades.
Inicialmente, é importante conhecer a história clínica, realizar o exame físico,
incluindo a avaliação nutricional cuidadosa e verificar os dados laboratoriais
disponíveis/apropriados. A terapêutica nutricional adequada, nesses casos
principalmente, desempenha papel importante na promoção da saúde, prevenção da
doença e no cuidado geral. Além de um suporte nutricional, agressivo, tanto via enteral
como parenteral, várias drogas (hormônio do crescimento, megestrol,
“ciprohepatadine”, tetraidrocanabinol, esteróides anabolizantes e antidepressivos) têm
sido utilizadas na tentativa de tratar a anorexia do idoso. Em particular, nos casos de
demência, não existe ainda um consenso de qual seria o melhor suporte nutricional. Ao
que se sugere, a nutrição enteral, por meio de sonda naso-entérica, não resulta em
benefício ou melhora de qualidade de vida para tais paciente. Cada caso deve ser
avaliado individualmente, e buscar o atendimento de suas necessidades nutricionais
dependerá do empenho, dedicação e atenção fornecidos por você, enquanto
nutricionista, pelos demais profissionais da equipe multiprofissional, de forma conjunta
e dialogada, e com certeza, em parceria com membros da família do idoso; somente
assim, obteremos o sucesso desejado no tratamento estabelecido.

NeF: Quais estratégias de prevenção da Osteoporose no idoso?

K.A.M: Dentre as estratégias de prevenção da osteoporose e outras enfermidades nos
idosos, pode-se destacar:
- A elaboração de um programa que esteja atento aos hábitos alimentares
sedimentados;

- Contemplação de uma variedade qualitativa e quantitativamente suficientes de
alimentos, em especial os alimentos fontes de cálcio (leite e derivados, como
queijo, coalhada, iogurte, vegetais folhosos verde-escuro, entre outros) e ficar
atento aos fatores que reduzem a absorção de cálcio no planejamento dietético,
tais como: alimentos fontes de oxalatos na mesma refeição (frutas e vegetais), de
fitatos (cereais), ingestão concomitante com alimentos fontes de ferro, que
competem pelo mesmo sítio de absorção, ingestão deficiente de vitamina D, uso
de medicamentos como tetraciclina e sulfato ferroso e diuréticos tiazídicos. E
quando não for possível atingir a recomendação pela dieta, é necessário fazer a
suplementação do cálcio (500-600mg, de 1 a 2x/dia), dependendo de sua
ingestão diária;
- Associação de uma atividade física moderada balanceada com a ingestão energética.
- Busquar a contribuição do controle/prevenção de doenças intercorrentes

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